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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Variação linguística na música "PAFUNÇA", de Adoniran Barbosa




PAFUNÇA
Adoniran Barbosa

Pafunça, Pafunça
Pafunça, que pena, Pafunça
Que a nossa amizade virou bagunça

Pafunça cabou-se a sopa
Que tu dava pra eu morfar
Pafunça cabou-se a roupa
Que eu te dava pra lavá
Hoje vivo no abandono
Dum vira-lata sem dono
E pra me judiá, Pafunça
Nem meu nome tu pronunça

Pafunça, Pafunça
Pafunça, que pena, Pafunça
Que a nossa amizade virou bagunça

O teu coração sem amor
Se esfriô, se desligô
Até parece, Pafunça
Aqueles alevador
Que tá escrito
Num fununça
E a gente sobe a pé
E para me judiá, Pafunça
Nem meu nome tu pronunça

Pafunça, Pafunça
Pafunça, que pena, Pafunça
Que a nossa amizade virou bagunça

Adoniran Barbosa faz uso de uma variante lingüística nessa musica, e em quase todas do seu repertório, porque pretendia reproduzir em suas letras a maneira de falar da população não-escolarizada, de um nível sócio-cultural menos favorecido.  É, também, o linguajar dos imigrantes italianos que se instalaram em alguns bairros de São Paulo, como o Brás e Bexiga, onde o próprio autor viveu. Adoniran se utilizou dessa variante, não pelo fato de não conhecer a norma culta, mas porque foi a forma que ele encontrou de compor suas letras e falar de modo mais direto a essa população. 


Além disso, podemos observar, na música “Pafunça” que Adoniran se utilizou dos “erros” do português para fazer as rimas, e é justamente aí que está a graça da letra, a parte divertida. Ele conseguiu encontrar rima para o nome de sua amiga “Pafunça” em “bagunça”, “fununça” e “pronunça”. Também temos as palavras “morfar”, “alevador”, entre outras, que são típicas e comuns na forma de falar dessas pessoas que se instalaram nesses bairros, vindas de outro país e que não tinham um nível sócio-econômico e cultural elevado.

As músicas de Adoniran Barbosa são um exemplo de variação lingüística, variação esta que ele soube usar muito bem para retratar os fatos e personagens típicos que ele observava no seu cotidiano.

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